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Não Sei Dizer Não Para um Pilantra

pilantra e dinheiro

– Teobaldo! Meu querido! Estava procurando você.

Antes de continuar, me deixe te explicar antes quem é o João, o maior malandro do Grajaú.

Ele é o tipo de cara que se convidá-lo para um bar, você vai acabar pagando por dois. Ele vai inventar uma desculpa de que perdeu a carteira e te pedir para pagar a conta.

E ele ainda vai te pedir dinheiro emprestado.

Hoje eu preferia me encontrar com o diabo, mas não com esse cara.

– Você está com pressa, Teobaldo? Queria trocar uma ideia com você.

– Ô João, estou correndo aqui para chegar na casa da sogra.

– Não vou demorar muito. Eu quero te pedir um favor, de amigo para amigo.

Estava na cara que era dinheiro.

– Sua sogra mora onde? É no Morais Prado? Rapaz! Vou para aquelas bandas. Tem um dinheiro sobrando para passagem?

– Estou com o dinheiro contado.

– Não tem problema, eu vou com você até o ponto de ônibus.

E lá fomos nós. Ele foi me contando sobre uma aposta que tinha feito e que, se não pagasse, ia acabar apanhando. Ele bem que merecia.

– Aí, queria saber se você não tem cinquenta reais para me emprestar.

– Poxa, João. Agora eu não tenho, de verdade.

Ele não se abalou. Investiu ainda mais pesado no pedido.

– Então, faça o seguinte. Já que você vai lá na sua sogra, pede emprestado pra ela. Depois eu te devolvo.

O cara era persistente. E como era amigo de infância, fiquei com medo de magoá-lo.

Resolvi aceitar a solução e acabei arranjando os cinquenta reais.

Quando lhe entreguei o dinheiro, ele foi só elogios e agradecimentos. Mas deixei claro que queria aquele dinheiro de volta.

Ele desapareceu. Passou a evitar a rua em que moro, para não ter que dar de cara comigo.

Eu não estava tão necessitado dos cinquenta reais. Então, deixei passar.

Meses se passaram. Numa manhã de domingo, enquanto eu voltava das compras, João me esperava na frente da minha casa.

– Teobaldo, há quanto tempo, não é? Como vai a vida?

Respondi bem rápido e agi como se estivesse com muita pressa. Se não fosse para pagar os cinquenta reais, nem queria conversa.

– Vou dar uma festa lá em casa. Queria você lá.

Fiquei até um pouco contente com o convite.

– Já chamei todo o pessoal, mas estou precisando de alguém de confiança para fazer um favorzão para mim. Queria saber se você poderia ir comprar algumas coisas.

– João, meu amigo… não sei se vai dar certo – tentei escapar da enrascada.

– Aí já fica valendo como meu presente de aniversário – ele respondeu, antes que eu terminasse de me explicar.

– Não vai dar, seu aniversário cai no mesmo dia do aniversário da minha sogra – foi a única mentira que encontrei para tentar escapar daquela enrascada.

– Poxa, cara. Você vai faltar na minha festa? Que mancada, Teo.

Ele tinha me colocado em uma saia justa.

– Eu não posso acreditar que meu melhor amigo – de infância! – vá me dar um bolo desses. Eu vou fazer trinta anos. Queria você lá.

Eu não tinha me esquecido dos cinquenta reais e ele ainda queria que eu fizesse as compras para o aniversário dele?!

– Quer saber? Não vou fazer pressão. Afinal, eu estou te devendo um dinheiro aí. Não, pode deixar. Pode deixar, que eu te entendo.

Ele se despediu e foi andando. Mas parou no meio do caminho e voltou.

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