Pintando o Sete
O que significa a expressão Pintando o Sete? Leia a história e deixe sua resposta nos comentários.
E teve uma vez em que meu filho aprontou uma[1]… que olha.
Tenho um filho, Tadeuzinho. E tenho que admitir, criar um menino de dez anos sozinha é uma tarefa difícil, mas a gente se diverte.
Primeiro que a gente precisa sempre estar de olhos bem abertos para as novidades que eles acabam inventando.
Naquele dia, ele chegou da escola e foi se arrumar para almoçar.
Depois de um tempo, ele me voltou com um chapéu e com a farda[2] escolar toda suja, como se tivesse estourado uma caneta[3].
Senti vontade de gritar quando olhei para a blusa manchada… mas ele me veio com outra surpresa.
Passou com um chapéu de palha esquisito e foi bem apressado para o banheiro.
Pelo barulho, deu para ouvi-lo procurando alguma coisa, ligando o chuveiro e indo para lá e para cá.
Mãe é mãe, e a gente sabe quando tem alguma coisa errada com nossos filhos.
Esperei para ver quanto tempo o malandrinho[4] ia esconder o que estava aprontando.
Até que, por fim, ele chegou na cozinha.
Ele mexia toda hora no chapéu, fazendo de tudo para esconder a cabeça.
Fingi que estava tudo normal e não perguntei nada.
Até que ele finalmente abriu a boca.
– Mãe, tem alguma coisa aqui em casa que sirva para cortar cabelo? – ele falou com a maior naturalidade do mundo.
– Para que você quer alguma coisa para cortar o cabelo?
– Não, não é nada não. É só para o caso de um dia a gente precisar, né?
-Ah, entendi. Que chapéu é esse que você está usando hoje?
– É que está quente. Não queria levar sol na cabeça.
– Mas você está dentro de casa, não precisa de chapéu.
– É que eu queria ver como ele ficava.
– Ah, que legal, agora tira.
– Ah… acho que vou ficar mais um tempinho com ele.
Certo de que eu estava sendo enganada, ele saiu e foi averiguar alguma coisa nas gavetas dos armários.
Não sei o que ele acabou encontrando, mas logo sumiu.
Depois de certo tempo, ele voltou. Havia desistido do chapéu e agora estava com uma toalha na cabeça.
– Está hidratando o cabelo, Tadeu?
– Não, é que eu não enxuguei direito.
Eu já estava no limite daquela brincadeira. Decidi ver o que ele tinha feito no banheiro.
Ele foi me seguindo, pedindo que por favor eu não fosse até lá.
Abri a porta…
E o banheiro parecia uma mistura de ateliê[5] de pintura e salão de beleza. Havia cabelo e tinta de tecido para todo lado.
Mechas[6] de cabelo rosa, vermelho, laranja e até violeta estavam espalhadas pelo chão e entupindo[7] o ralo da pia.
Na mesma hora, puxei o pano da cabeça de Tadeu.
Eu estava irada, mas não consegui segurar a gargalhada que veio logo em seguida.
Além das horrorosas falhas no cabelo mal cortado, ele tinha praticamente um arco-íris na cabeça. Mais parecia uma daquelas capas de discos psicodélicos.
Para meu pequeno gênio, que começou no vermelho e terminou no violeta, o chapéu de palha seria um acessório crucial até que o cabelo voltasse a crescer.
Glossário
[1] Aprontar uma: nesse caso, fazer algo errado, causar uma confusão.
[2] Farda: uniforme padrão utilizado por alguma instituição ou escola.
[3] Estourar uma caneta: fazer que o conteúdo de uma caneta (tinta) vaze, como numa pequena explosão de tinta. Faz muita sujeira.
[4] Malandrinho: pessoa que não tem vergonha (linguagem familiar).
[5] Ateliê: local de trabalho de um artista.
[6] Mecha: Porção de cabelos.
[7] Entupir: obstruir, tapar, fechar.
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